A Revolução Portuguesa de 25 de Abril de 1974 inscreveu na
História de Portugal um momento de viragem, de ruptura com as amarras
fascistas da repressão e do empobrecimento generalizado do povo
português, de grandes transformações sociais, culturais e económicas, da
conquista de direitos e liberdades, que permitiu estabelecer o
compromisso da construção de uma democracia rumo ao Socialismo,
efectivado com a aprovação da Constituição da República Portuguesa a 2
de Abril de 1976, a consagração das conquistas de Abril.
A
nacionalização da banca, a reforma agrária, o salário mínimo, a
elevação do poder de compra das massas, o poder local democrático, o
serviço nacional de saúde, entre muitos outras no domínio político,
social, cultural e económico,fazem parte do património das conquistas
de Abril e que permitiram então, não só responder à crise que mundo
capitalista vivia, mas encetar um projecto de desenvolvimento endógeno
para o país.
Analisando o Presente, 39
anos depois do 25 de Abril, percebe-se que existe claramente um
desfasamento cada vez mais profundo entre aquilo que foram as conquistas
da Revolução, patentes na Constituição, as promessas que Abril abria e a
prática dos sucessivos governos, PS, PSD, CDS, com a anuência dos
respectivos Presidentes da República.
Contrariamente
ao delineado pela Constituição, foram consecutivamente submetendo o
poder político democrático ao poder económico e financeiro, ignoraram a
promoção de uma economia sustentada, a dinamização e desenvolvimento
dos meios de produção agrícolas, industriais, e comerciais.
Enfraqueceram consecutivamente os direitos de Abril, como o direito à
Educação, à Saúde, ao Trabalho, à Habitação, à Cultura, entre muitos
outros que foram negligenciados face a uma política autista aos
Portugueses e à Constituição da República.Nestes 39 anos, Portugal foi
paulatinamente entrando em divergência económica,os seus défices
estruturais e a dívida externa foram aumentando agravando a nossa
dependência externa, consequentemente foi-se agravando as desigualdades
sociais, a exploração do trabalho, o desemprego, cada vez mais
estrutural, a precariedade laboral e a pobreza.
Como
resultado destas políticas, está hoje cada vez mais em causa a
soberania e a independência nacional, não só pela submissão de
sucessivos governos nacionais a uma integração capitalista europeia,
sobre a batuta do grande capital alemão, como sob o pretexto da dívida,
somos submetidos, sem consulta popular, ao cumprimento de um memorando e
a constantes avaliações pela troika estrangeira -a Comissão Europeia,o
Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional.
Ora
hoje o Governo PSD/CDS em funções,tal como o anterior, PS, está
assumidamente mais preocupado em “honrosamente cumprir a palavra”,
servindo a sua cartilha ideológica e num claro ajuste de contas com o 25
de Abril, assumindo o compromisso com a troika estrangeira, do que
cumprir com a Constituição e defender os direitos, liberdades e
garantias do seu povo, como se tal ato não merecesse maior honra, e que
à luz da Constituição, se devesse assumir como um dever prioritário. Um
Governo que acrescenta austeridade à austeridade, deixando pelo caminho
os despojos da esperança e confiança dos portugueses num futuro melhor,
num futuro de Abril.
As consequências desta
submissão, são desastrosas e criminosas para o povo Português, e todas
as medidas, uma grande parte anti-constitucionais,são vendidas como a
única solução de saída. Ora estas medidas de austeridade não só não tem
resolvido os problemas para os quais foram anunciadas, com o défice
público a derrapar e a dívida pública a atingir valores históricos,
atingindo os 123% do PIB, como foi agravando vertiginosamente a situação
económica e social, cujo número desempregados em crescimento galopante é
um triste exemplo.
Em 2013, de acordo com as
previsões económicas da Comissão Europeia, o PIB nacional estará ao
nível do ano 2000, o PIB por habitante ao nível de 1998, o emprego ao
nível de 1988, o investimento privado ao nível de 1987, a produção
industrial ao nível de 1994,o peso dos salários no rendimento/produto ao
nível de 1990 e os salários reais ao nível de 2007. Com o país em
divergência face à União Europeia, com uma contracção do PIB nos últimos
3 anos de 10 mil milhões de euros e mais 400 mil desempregados. Este
não é o Portugal que queremos, este não é o Portugal de Abril. Esta é a
política de direita, das troikas externas e internas que é preciso
derrotar.
Estes dados, entre outros,comprovam que o
real motivo por detrás das actuais políticas a intensificação da
exploração do trabalho, expropriar quem trabalha por conta do capital
financeiro, sobretudo estrangeiro, em paralelo com a venda a retalho do
país,tornando-o mais apetecível à voracidade capitalista das grandes
multinacionais que operam no mercado interno europeu.
No
Porto a realidade tem um retrato ainda mais dramático, com os mais de
20.000 desempregados inscritos nos Centros de Emprego, concentrando 6%
dos beneficiários do RSI do Continente.Uma cidade em desertificação
económica e social, que perde 7 habitantes, 13postos de trabalho, e 2
empresas por dia. Uma cidade, onde a maioria PSD/CDS que a governa,
juntou mais austeridade à austeridade, onde o Orçamento de 2013é um dos
mais baixos de sempre, com o valor mais baixo do investimento e o
aumento da carga fiscal, enquanto reduz os efectivos, direitos e
remunerações dos trabalhadores municipais.
Percebe-se que o Futuro de Portugal
,seguindo este rumo, estará ensombrado, será um futuro hipotecado,
negado às presentes e futuras gerações, será um futuro de desemprego,
pobreza e exploração, um Portugal a emigrar por melhores condições e um
Portugal estagnado susceptível às vontades dos grandes grupos económicos
e financeiros. O retrocesso civilizacional, os impactos sociais e
económicos,serão catastróficos para a sociedade portuguesa. Há que dizer
basta! É urgente e necessário mudar de rumo e mudar de política. Pôr o
país de volta aos carris de Abril.
O Desafio
a alcançar é esse mesmo,reclamar um país que faça cumprir e avançar
Abril. A afirmação dos valores de Abril na construção de um Portugal de
progresso social, liberto das amarras da exploração. Este é o desafio
para o qual todos os democratas estão convocados. Com confiança num
futuro melhor. A luta continua! Por um Portugal de Abril! Por um Porto de Abril!
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